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A Toca que é do Baiacu, mas também é da costela e da rabada perfeitas

Marquinho, o proprietário, bebe sua cerveja na Toca do Baiacu. Fotos: Felipe Lucena

Na rua do Ouvidor sou pessoa relativamente conhecida; seja atuando como corretor de imóveis, por ser provedor da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e chegar correndo todo sábado e domingo perto do meio-dia pra assistir a Missa com Coral e Orquestra que fazemos desde 2023 em nossa capelinha, ou mesmo por supervisionar obras em imóveis que administramos na região. Mas apesar de passar por ali diversas vezes por semana, almoçar praticamente em todos os restaurantes da região semanalmente, eu nunca tinha sentdo na Toca do Baiacu. O sobrado bacaninha que fica no número 41 da rua mais famosa do Rio sempre me chamou atenção, mas foi a matéria que o Lucena publicou aqui no DIÁRIO que acabou me fazendo sentir-me obrigado a sentar lá e prestigiar o vizinho.

Embora o Renan Ferreira, presidente do Polo Gastronômico da Praça XV tenha me falado várias vezes que o Marquinho – apelido do dono do estabelecimento – é um grande cozinheiro e que servia iguarias sob encomenda pros velhos corretores que frequentavam a região – por conta da nossa miseravelmente extinta Bolsa de Valores – eu confesso que o jeitão meio abandonado do bar não havia me atraído, ainda. E olha que sou de circular por tudo que é restaurante tradicionalzão, em toda a cidade, de Campo Grande ao Centro, passando pela Zona Norte, quando arrumo companhia. (Aliás, o Padre Thiago Sardinha da Igreja da Penha prometeu me acompanhar à Adega D’Ouro em Vicente de Carvalho, e vou cobrar isso dele logo que se liberar da Festa da sua Padroeira, já que o meu amigo Tarquino, pároco de Inhaúma, vive me enrolando) Meu interesse vinha se acumulando, e num dia que almocei pela Ouvidor com o nobre Editor Chefe deste jornal, tentei emplacar o endereço, mas ele recusou.

Só que eu tenho esse problema de ser teimoso. Então, no último sábado, com a região completamente lotada – realmente a Praça XV se tornou um dos principais polos de divertimento do carioca aos sábados, era tanta gente que não havia lugar pra sentar em nenhum restaurante – eu resolvi sentar na Toca do Baiacu pra ver se aquilo tudo era verdade. Cadê que tinha lugar? Mas, se tenho um privilégio por ter pilotado o restauro da igrejinha setecentista, é o de ser visto como um vizinho minimamente querido. O pessoal da Tabacaria da Ouvidor me deixou sentar na mesa deles, e comer a comida do Baiacu. Porra, e que comida. (antes que me chamem de fura olho, eu tomei as bebidas todas da Tabacaria, tá bem?).

Sentado a poucos metros do proprietário a quem cumprimento todos os dias entrando e saindo da rua, embora nunca tenhamos conversado – pedi o menu. Dois garçons davam atendimento por parte do velho botequim que já foi tema de reportagem no New York Times. Um eu conheço, é o Marcelo, que trabalhou no Bar da Dora, mais adiante, onde como churrasco misto com torresmo. O outro, de cabeça branca, simpaticíssimo, me prendeu com uma ótima conversa: foi criado ali na rua do Ouvidor – na minha cabeça um grande privilégio, amo tudo ali – onde seu avô português residia e trabalhava. Contou sobre as memórias do tempo em que havia ali no lugar da livraria Folha Seca uma barbearia, e no local onde estamos reformando pra instalar o Museu do Café o velho restaurante Caldeirão. E conversamos como velhos amigos. Mas como não sou de ficar sem comer, pedi pra ver o menu: ele virou pra mim o quadro negro e eu vi um monte de opções incríveis de frutos do mar, que era minha intenção original comer. As outras mesas, com suas toalhas quadriculadas de cantina italiana – aleatório mas muito bacana – cada uma degustava um prato mais bonito e apetitoso que o outro. Só que o papo com o garçom ia tão bem que ele me ofereceu uma costela no bafo que seria um supra-sumo. E eu vi também que ele tinha rabada. Eu sou fanático por rabada. Perguntei se podia mandar um pouco de rabada junto com a costela. Ele foi até o proprietário, que, com sua antológica camisa aberta, autorizou. Respirei aliviado. Pedi batata portuguesa também.

Papo vai, papo vem, o samba comendo solto no Parada Ouvidor (ao lado), e umas 10 cocas zero depois – quem conhece confia – chegou a comida. O negócio cheirava de longe. Eram, os dois pratos, a visão completa do paraíso. E cheiravam paradisíacos também. O molho grosso e ferruginoso da rabada denunciava que aquilo ali tava incrível. A carne praticamente solta dos ossos, os pedaços de tempero no tamanho certo: a rabada brilhava como um diamante sob o sol do Centro Histórico. Fervendo numa espécie de panelinha de alumínio, dei a primeira garfada. Eu quase fui na lua. Era bom, viu. A química perfeita entre sólido, líquido, temperos, pimenta, especiarias… Sei lá, mas quem cozinhou sabe mesmo fazer uma rabada. Dar nota é difícil, e não foi porque o papo com o garçom estava ótimo não. Aquela rabada tava boa mesmo se a companhia fosse ruim.

Mas eu não cheguei na costela ainda. Vocês não tão entendendo. A costela tinha a combinação absolutamente perfeita entre gordura, carne, sal, pimenta. Era algo realmente fora do comum. Salgadinha, como eu gosto, mas tenra até o fim. Era um pedação que dava pra três pessoas; dividi com um amigo que lá sentou comigo depois da Missa e ficou até ir pra um compromisso. Sabe aquela costela quando desfia perfeitamente, molhadinha sem ser muito derretida, gorda mas não só com gordura…. é realmente uma experiência quase religiosa. E depois de a gente se esbaldar, sobrou ainda pra dar uma quentinha pra uma moça que vende guloseimas por ali com seu filho pequeno. As batatinhas portuguesas estavam sequinhas e crocantes como tem que ser. Era uma montanha delas.

Não tirei fotos (eu sei que devia até pelo ofício que aqui executo, mas o negócio era tão bom que comi jubilosamente e nem pensei que ia escrever estas linhas. Mas a síndrome de abstinência daquela culinária já me fez descrever pra tantos amigos minha satisfação com a comida de sábado que decidi escrever). As bebidas, como eu disse, eu tomei pela Tabacaria e paguei a eles diretamente. Pelo delicioso prato de Costela, Batatinhas, Arroz, (Feijão bem temperado, de caldo grosso e quente) e Rabada, paguei 110 reais. Paguei feliz. Na verdade, de joelhos. Ainda mais natural para quem saiu da Santa Missa. Voltarei. Bem Rápido.

PS: Como lá não tinha sobremesa, comi os brigadeiros que um rapaz e sua namorada fazem artesanalmente e vendem lá na rua mesmo, e que são bastante gostosos. Ele está trabalhando para juntar dinheiro e montar sua fábrica. É extremamente simpático e educado, um vendedor de verdade (vendedor inconveniente é o ó). Vale ajudar. Vêm embalados graciosamente e não tem aquele gosto pavoroso de Moça Fiesta.

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