O varejo é um dos setores usualmente mais impactados por juros mais altos. Com as taxas mais caras, consumidores tendem a diminuir o uso dos créditos, comprando menos e impactando os negócios no geral. Mas, apesar de o Banco Central ter elevado sua taxa básica há cerca de um mês, as perspectivas para os resultados do terceiro trimestre seguem positivas.
De forma geral, a visão é de que ainda é cedo para as companhias sentirem a alteração das taxas em seus balanços. Fora isso, a economia brasileira segue avançando.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), por exemplo, a renda média dos trabalhadores no segundo trimestre subiu 5,8% na base anual. Já o endividamento das famílias vem caindo sequencialmente, de acordo com um levantamento da Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“A alta dos juros era um cenário já conhecido pelas empresas de varejo. E elas já se prepararam para isso. Reduziram um pouco suas dívidas e estruturam-se internamente. Há uma expectativa positiva, principalmente para o segundo semestre, que vem muito da capacidade de recuperação de vendas, da transformação das empresas, que buscaram eficiência”, fala Leonardo Cyreno, head de Eficiência Comercial e Growth da AGR Consultores, focada no setor.
Em relatórios, os bancos também endossam essa visão. O Santander, por exemplo, menciona que a perspectiva é de que a “as tendências positivas continuem”, com destaque para as varejistas de moda.
“Esperamos que os varejistas de moda sejam os melhores desempenhos no setor de varejo para a temporada de resultados do terceiro tri, impulsionados por um ambiente mais favorável para o consumo discricionário e pela diminuição da concorrência transfronteiriça”, dizem os analistas do banco, encabeçados por Ruben Couto.
Para a equipe de analistas, a C&A deve ser a empresa que mais se destacará, com crescimento de vendas mesma lojas (SSS, na sigla em inglês) e de margem bruta, apesar de uma base de comparação difícil na base anual.
O Itaú BBA vai na mesma linha, corroborando que o varejo de moda trazer os melhores resultados do setor do período entre julho e setembro, mencionando avanços operacionais. No entanto, a casa enxerga que a Lojas Renner será a que se sairá melhor.
“A administração começou a adotar um tom mais otimista e as estimativas de consenso dispararam, juntamente com o preço das ações, que subiu 40% desde o início de agosto. Estimamos um crescimento de receita de 12% e uma expansão de 100 pontos-base na margem bruta para a divisão de varejo”, explica o time, encabeçado por Rodrigo Gastim.
Do outro lado, Santander e Itaú BBA enxergam que o varejo de alimentos e os atacarejos devem trazer os resultados mais negativos — não necessariamente pelo cenário macro, mas por conta da maior competição que alguns players ver enfrentando.
Os últimos anos foram marcados por expansões agressivas do Assaí e do Atacadão, bandeira do Carrefour Brasil. O esperado é que com o amadurecimento das lojas, a receite aumente, mas que as empresas também tragam nos balanços sinais do aumento da competitividade e da canibalização.
Uma inflação menor também tende a impactar os resultados dessas companhias. Essas empresas, em época de inflação maior, tendem a faturar mais, com os clientes se abastecendo para fugir da oscilação dos preços, e lucrando com a valorização dos próprios estoques no mês a mês.
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