
Minha filha Antonela acabou de chegar ao mundo e, enquanto vivo os primeiros dias da licença-maternidade, sinto na pele uma das experiências mais intensas da vida. É um período de cuidado, adaptação e amor, mas também de reflexão sobre a realidade injusta de milhões de brasileiras que precisam equilibrar o trabalho, o cuidado com os filhos e seus próprios sonhos.
Quase metade dos lares no país é chefiado por mulheres. Para se ter uma ideia, entre as mães, 60% estão fora do mercado de trabalho. Das que permanecem ativas, a maioria está em cargos operacionais e apenas 15% chega a funções de liderança. Isso não acontece por falta de capacidade, mas pelas barreiras como a diferença salarial, o preconceito e as dificuldades para conciliar responsabilidades profissionais e familiares.
Os números escancaram esse triste cenário: 38% das mães afirmam receber menos que colegas homens na mesma função. Quase 95% delas nunca foram promovidas durante a gestação ou o período de licença. Metade deixou de participar de momentos importantes na vida dos filhos por medo de perder o emprego. Além disso, 20% não têm com quem dividir as responsabilidades.
Na Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres e Cuidados, já atendemos mais de 1 milhão de mulheres. Cada história que chega aos nossos equipamentos reforça que maternidade e carreira podem caminhar juntas quando há políticas públicas eficazes. Criar oportunidades é garantir que as mulheres tenham condições de sustentar suas famílias, conquistar autonomia e seguir seus projetos de vida. Foi assim que qualificamos mais de 347 mil para o mercado de trabalho e acolhemos mais de 52 mil em situação de violência.
A licença-maternidade, para mim, é mais que um direito. Significa o momento de viver intensamente os dias com a Antonela e, ao mesmo tempo, pensar em como ampliar políticas que permitam a outras mulheres atravessar essa fase com tranquilidade. Isso passa por jornadas mais flexíveis e oportunidades de crescimento que respeitem a maternidade.
Ser mãe na política é transformar a própria vivência em ação concreta. É conhecer, de perto, as barreiras que tantas enfrentam e usar essa experiência para fortalecer leis, programas e serviços que assegurem cuidado e oportunidades.
O Brasil ainda precisa avançar para que nenhuma mãe tenha que escolher entre criar os filhos e seguir sua carreira. Mas cada passo conta. Mesmo neste momento especial ao lado da minha filha, sigo comprometida em garantir que ser mãe e realizar sonhos seja possível para todas.
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