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Rio de Janeiro, 21-05-2021. CURSO DA POLÍCIA CIVIL PARA ATENDIMENTO A CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL. Foto: Eliane Carvalho

Agentes são capacitados para ouvir relatos de vítimas de abusos

Por Lídia Michelle Azevedo

A Polícia Civil formou, nesta quarta-feira (dia 26), 75 agentes no Curso de Capacitação em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes vítimas ou testemunhas. As aulas acontecem com regularidade desde 2018 e já formou cerca de 300 policiais. Este ano, pela primeira vez, aconteceu na modalidade a distância por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. Outra novidade foi a inclusão de investigação simulada ao final do curso.

Segundo o delegado Carlos Eduardo de Araújo Rangel, diretor de ensino da Acadepol, a procura pela capacitação é muito grande por atender a uma demanda dos gestores e de toda classe policial. Inclusive, nesta edição, há a presença de delegados e agentes da Polícia Civil do Acre, Mato Grosso e Pará.

– O curso possibilita que o policial passe a alterar sua metodologia de atendimento a crianças, a adolescentes vítimas ou a testemunhas de crimes. O método ‘Peace’, utilizado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, é uma modalidade de entrevista cognitiva que nos foi repassada pela polícia do Canadá. Nós fizemos as adaptações metodológicas à realidade processual penal brasileira. O ganho é gigantesco, pois a criança  e o adolescente recebem um atendimento humanizado e, por outro lado, a polícia produz um elemento de prova mais consistente – comenta o delegado.

Acolhimento

Um dos instrutores do curso, o inspetor Emerson Brant, que atua na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) há 20 anos, explica que o policial que atua nessa área trabalha ativando as memórias das crianças e, por isso, precisa ser acolhedor e ter um trato extremamente humanizado. Ele, que é psicólogo de formação, pontua que é importante preparar os agentes porque o ato de colher informações em um caso de violência sexual não é uma simples conversa. O policial precisa estar atento às reações emocionais, à qualidade do discurso, para direcionar a memória.

– A gente não faz entrevista, eu facilito a lembrança para a criança ativar a memória do que aconteceu, se aconteceu, com uma técnica. Assim eu consigo saber o que aconteceu e como aconteceu. Se eu fizer perguntas, como uma entrevista, eu não vou saber – explica Emerson Brant, que continua: – É uma diferença sutil para ver se a criança ou adolescente está mentindo ou não. Não nos cabe julgar. É uma entrevista humanizada, respeitando o íntimo e o emocional, com cuidado para não revitimizar.

Governador anunciou investimento

Justamente para evitar a revitimização das vítimas de violência sexual que o governador Cláudio Castro anunciou, neste Maio Laranja, o investimento de R$ 690 mil em 22 salas que serão preparadas para atender especificamente esse público, que precisa de atendimento especializado e acolhedor num momento tão difícil. O valor será usado em cada uma das 14 Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs) e nas delegacias de Seropédica, Mesquita, Nilópolis, Itatiaia, Teresópolis e Iguaba. Já a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav) contará com duas salas. Observação: com a mão enfaixada, a mulher que aparece na foto é uma atriz simulando uma vítima sendo atendida.