Mutirão do bem envolve 1,4 mil pessoas que oferecem seu tempo para recolher doações, separar e distribuir kits, além de atenção às famílias atingidas pela tragédia
Uma rede de solidariedade tomou conta de Minas Gerais desde o rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, na Região Central do estado. Assim que soou a primeira notícia do soterramento do subdistrito de Bento Rodrigues, fundado por um bandeirante no século 18, voluntários se mobilizaram para arrecadar água, alimentos, calçados, roupas, fraldas, colchões, objetos de higiene pessoal e tudo o mais que pudesse ajudar os desabrigados. O volume de doações foi tão grande que a Prefeitura de Mariana interrompeu temporariamente o recebimento do material e, assim, outras localidades, como Paracatu de Baixo, e municípios igualmente atingidos pelos rejeitos de minério, como Barra Longa, na Zona da Mata, puderam receber o benefício mais do que bem-vindo. Dessa forma, contra a lama invasora e maléfica, só mesmo a corrente do bem para socorrer os necessitados e não deixar a esperança morrer.
Fluminense de Resende, Douglas Sant’Anna, de 31 anos, tem experiência em logística de desastres e está em Mariana desde o dia 8, o domingo seguinte ao rompimento da barragem, atuando como consultor voluntário nas ações coordenadas pela prefeitura. Ele entende do riscado, pois trabalhou em Teresópolis (RJ) em 2011, quando a região serrana do Rio de Janeiro foi arrasada por chuvas torrenciais, num cenário de destruição que ainda não saiu da sua cabeça. “Tenho vivido, nos últimos anos, para ajudar pessoas nessas situações”, revela Douglas, que ainda está na cidade mineira ajudando a receber os donativos, que não param de chegar ao Centro de Convenções.
Ramon Lisboa/EM/D.A Press
“Num momento desses, as pessoas ficam tocadas, mexidas com a história e colaboram muito, certas de que os outros precisam sempre da nossa ajuda – Douglas Sant’Anna, voluntário em logística de desastres (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
“Em Mariana, ocorreu uma situação peculiar. Muita gente achou, no início, que a destruição tinha sido no Centro da cidade, tanto que amigos e parentes me ligavam achando que os serviços públicos estavam interrompidos e não tinha água nem para beber. Assim, começou a chegar muita doação, num clima de grande comoção. Num momento assim, as pessoas de fora ficam tocadas, mexidas com a história, e colaboram, certas de que os outros precisam sempre da nossa ajuda”, diz o voluntário.
GERAÇÕES Em Mariana, o exército de voluntários em ação arregimentou 1,4 mil “soldados”, prontos a oferecer seu tempo com atividades diversas: recebimento de doações, triagem, montagem de kits e atenção às famílias. O mecânico montador José Raimundo Nonato, de 54, morador do Bairro Rosário, em Mariana, dá sua parcela de contribuição. “A gente tem que fazer o bem sem olhar a quem”, afirma o pai de família, que, pela profissão, viaja pelo município e tem amigos em Bento Rodrigues, o distrito destruído pela avalanche de lama que já chegou ao Oceano Atlântico, no Espírito Santo, no maior desastre ambiental do país envolvendo rejeitos de minério. “As pessoas estão em dificuldade”, observa José Raimundo.
Solidariedade não tem idade, especialmente num momento de sofrimento das famílias – tanto de funcionários da Samarco, desaparecidos desde 5 de novembro, como de moradores de Bento Rodrigues. Kelven Roberth Dias de Oliveira, de 18, morador do Bairro Santo Antônio, em Mariana, acredita que é hora de “nos colocarmos no lugar dos outros”. Conhecendo bem o município, por acompanhar uma equipe que “fazia som” em bares e festas, Kelven tinha ligações afetivas com o distrito de Paracatu de Baixo, terra do avô Zezinho.
“Precisamos nos mobilizar”, diz com firmeza o jovem, que, entre outras tarefas, carrega e descarrega, dos veículos, as contribuições que continuam chegando e, agora, são encaminhadas ao Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), braço de assistência social do governo de Minas. O Servas, conforme informações da sua assessoria de comunicação, já enviou três carretas e dois caminhões de água para Governador Valadares, na Região Leste, e três caminhões de doações diversas para Barra Longa. Em BH, as doações são armazenadas, antes de seguir para as cidades, num galpão no Bairro Prado.
Enquanto isso..precisa-se de voluntários
O Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) está precisando de voluntários, maiores de 18 anos, para ajudar na separação das doações, fazer a triagem do material, montar kits e verificar o estado das roupas destinadas às famílias atingidas pelo tsunami de lama que atingiu a Bacia do Rio Doce. As pessoas vão trabalhar das 7h30 às 17h, sendo gratuitos o transporte e uma refeição (almoço). Quem se interessar, dever fazer o cadastramento pelo telefone (31) 3349-2400.