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Senado deve afastar nesta quarta-feira a presidente Dilma por até 180 dias

Ministro Cardozo ainda tenta reverter resultado com mandado de segurança no Supremo. Manifestantes defenderam Dilma nas ruas

O DIA
Brasília – A presidente Dilma não está resignada. Sabe que hoje deve ser seu último dia no Palácio do Planalto, mas ainda tenta virar o jogo. Na tarde de ontem, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, entrou com novo mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal pedindo a anulação do impeachment. Ele corre contra o tempo.

Às 9h de hoje, os senadores começam a traçar o destino da presidente. Ela é acusada de crimes de responsabilidade ao assinar decretos de suplementação de crédito e de chancelar as chamadas pedaladas fiscais. A expectativa é que a votação no plenário do Senado acabe antes das 23h.

Se o impeachment for aceito, Dilma receberá na mesma noite um comunicado oficial das mãos do primeiro-secretário do Senado, Vicentinho Alves (PR-TO). Nesse caso, o vice-presidente, Michel Temer, assume automaticamente o comando do país, mas a lei não permite festa de posse.

CERIMÔNIA DE ADEUS
Se afastada, a presidente terá direitos restringidos durante os 180 dias. Seu salário ficará reduzido pela metade. Ela segue morando no Palácio da Alvorada, mas o presidente do Senado, Reinam Calheiros (PMDB-AL), ainda não resolveu se Dilma poderá usar o avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Dilma e aliados planejaram uma espécie de cerimônia de adeus para os últimos momentos da presidente. Os eventos já estão ocorrendo desde ontem. No Rio, em São Paulo, Porto Alegre, Brasília e em outras dez cidades, defensores de Dilma fizeram uma série de protestos durante toda a terça-feira.

Os manifestantes prometem acompanhar a presidente até a hora em que ela deixar o Planalto. “Estamos nos preparando para um longo período de resistência democrática”, contou Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio Grande do Sul.

Dilma quer descer a rampa do Palácio ao lado de um grupo de mulheres. O ex-presidente Lula é contra. Em reunião ontem com Dilma e petistas, Lula disse que a imagem da presidente descendo a rampa pode enfraquecer a disposição futura dos movimentos sociais. Dilma discorda e promete que ela e seus defensores não irão descansar.

“Eu não estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e dos traidores. Mas esse cansaço impulsiona a mim a lutar ainda mais”, afirmou Dilma. “Vou usar todos meios legais, todos os meios de lutas. Vou participar de todos atos e ações para defender meu mandato”, afirmou a presidente durante a abertura da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília.

PAPA E O DIABO

No mandado de segurança impetrado no STF o ministro Cardozo argumenta que o processo de impeachment foi conduzido sem legitimidade pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na avaliação de Cardozo, como o Supremo Tribunal atestou que Cunha utilizou o mandato parlamentar em benefício próprio, todas as suas decisões em relação ao impeachment estão comprometidas e devem ser anuladas. O mandado será analisado hoje pelo ministro Teori Zavascki, o mesmo que, na semana passada, pediu o afastamento de Cunha.

Um dos argumentos de Zavascki foi que o peemedebista usava o cargo para barrar o avanço das investigações contra ele. “Se o STF afastou Cunha por desvio de poder, isso também se caracteriza no impeachment. Invocamos os mesmos fundamentos do Supremo como fator de nulidade do impeachment”,comparou o ministro Cardozo.

O polêmico Gilmar Mendes, também ministro do Supremo, ironizou os recursos de Cardozo. “Eles podem recorrer ao céu, o Papa ou o diabo”, desqualificou Mendes. Eduardo Cardozo optou por não bater boca com Gilmar Mendes.

Cardozo afirma que o mandado de segurança no Supremo não é uma bala de prata e que ainda pode recorrer à Corte Interamericana. “Até onde vai a judicialização? Até o fim”, afirmou o Eduardo Cardozo. “Até que eu consiga que o meu direito seja respeitado. Até que a Justiça seja feita.”