Criado em setembro, Partido da Mulher Brasileira, que chegou a ter 22 parlamentares, se torna maior vítima da janela partidária e tem hoje apenas um representante na Câmara
Criticado por movimentos feministas pelo conservadorismo extremo de seus deputados e pela falta de parlamentares do sexo feminino em seus quadros, o Partido da Mulher Brasileira está entrando para a história como a legenda de mais rápida ascensão e queda da política recente brasileira.
Criado oficialmente em setembro do ano passado, quando o Tribunal Superior Eleitoral autorizou o registro da sigla até então disputada pelo até hoje inexistente Partido Militar Brasileiro – apoiado pelo parlamentar Jair Bolsonaro (PSC-RJ) –, o PMB angariou de cara um número impressionante de deputados.
Três meses após sua criação, em janeiro, o partido já contava com 21 parlamentares na Câmara dos Deputados, número que o consolidava entre as dez maiores legendas da Casa – ficando à frente do, entre outros, DEM, um dos símbolos da oposição ao governo Dilma Rousseff, do PRB, de Celso Russomanno, e do PSC, de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro.
Mas, em apenas dois meses, a legenda que se destacava como fenômeno desmoronou: 20 deputados subitamente abandonaram o PMB, mantendo o partido com apenas um parlamentar na Casa – tornando o PMB a menor legenda dentro da Câmara. Único nome do partido no Senado Federal, Hélio José (GO) também abandonou o barco, migrando para o PMDB, na semana passada.
“O partido começou a ficar sem representatividade. Você não consegue participar de comissão, ter tempo de liderança ou assessoria no Plenário sem ter representação. Como é que eu ia fazer? Eu não tinha outra saída”, justifica o deputado Alexandre Valle (RJ), um dos que abandonaram a legenda na janela partidária – eleito pelo PRP, em 2014, ele foi para o PR, seu terceiro partido em dois anos. “Eu não teria dificuldade nenhuma de continuar no PMB, mas foi por uma questão de sobrevivência parlamentar.”O desembarque dos parlamentares que deixaram o Partido da Mulher Brasileira se deu em dez agremiações diferentes – entre elas legendas consideradas fiéis apoiadoras do governo, como o PTdoB, e opositoras ferrenhas, como o DEM. O PTN (Partido Trabalhista Nacional) foi o que mais se beneficiou com o êxodo peemebista, recebendo quatro deputados durante a janela partidária.
Conservadorismo marcante
Ao longo de seus poucos meses de existência, o PMB se destacou tanto por ser o partido mais jovem da política nacional – o 35º do País – quanto por ser o único a supostamente levantar bandeiras abraçadas por movimentos feministas que desde o início se mostraram distorcidas pela legenda.
Conforme mostrou o iG no início do mês, a maioria dos deputados da legenda que se autodenomia representante das mulheres – na ocasião, 9 dos 16 parlamentares – era contrária às principais bandeiras de movimentos feministas, como a legalização do aborto.
Além disso, apesar de bradar querer maior representatividade das mulheres dentro do Congresso Nacional, o partido tinha como seu líder na Câmara um homem, o evangélico Carlos Henrique Gaguin (TO), também anti-aborto, que migrou para o PTN – não uma das únicas duas mulheres antes pertencentes a seus quadros, Brunielle Ferreira Gomes (MG), a Brunny, que migrou para o PR, e Dâmina Pereira (MG), agora no PSL.
“Ainda tentamos de todas as formas ter uma liderança mulher na Câmara, mas o líder do partido quem indica e escolhe são os próprios parlamentares. As mulheres ainda estão muito tímidas e acredito que isso vá mudar a longo prazo”, disse na ocasião a presidente do PMB, Suêd Haidar. “Não posso negar, ainda não tivemos tempo para nos organizar para discutir certas questões com mais seriedade. Quando encerrar a dança das cadeiras dos parlamentares indo e vindo para os partidos [terminada nesta semana] conseguiremos nos reunir e ter uma posição.”
A reportagem tentou, sem sucesso, contatar novamente a presidente do PMB e o único deputado remanescente da legenda no Congresso, Welliton Prado (MG), que deixou o PT em novembro para se juntar ao partido. Também foi procurado o senador Hélio José (GO), que atualmente está fora do Brasil em missão oficial no Japão.