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Colapso do petróleo agrava crise de caixa do Rio de Janeiro

Pezão é recebido por Dilma em Brasília e pede mais investimentos da Petrobras para ajudar estado

ANGÉLICA MARTINS
Rio – A queda do preço do petróleo, que nos últimos anos desabou de mais de US$ 100 para US$ 30 o barril, no fechamento de ontem, agrava ainda mais a crise financeira do Estado do Rio. Dependente direto dos royalties, o estado do governador Luiz Fernando Pezão vem arrecadando cada vez menos.

Segundo levantamento do DIA na Agência Nacional de Petróleo (ANP), o estado deixou de levar para seu caixa ano passado cerca de R$ 900 milhões, com recuo de 28% desta receita acumulada no ano de R$ 3,2 bilhões em 2014 para R$ 2,3 bi em 2015. O forte recuo é resultado atribuído à desvalorização do preço do barril do petróleo internacional, que teve uma redução de US$ 106,75 em janeiro de 2014 para US$ 30,85 no ano passado.

Ontem Pezão voou à Brasília para ser recebido pela presidente Dilma Rousseff para buscar apoio. Ele pleiteou com a presidente mais investimentos por parte da Petrobras na exploração e produção de petróleo nos campos fora do pré-sal da Bacia de Campos. O governador argumentou com a presidente Dilma que esse investimento pode trazer mais receita e empregos para o estado do Rio.

Para tentar compensar as perdas de receita do estado, o governador tem buscado alternativas de redução de custos e aumento da arrecadação, mas os problemas com atraso de pagamento de servidores e de contratos de serviços terceirizados se agravaram.

Pezão foi recebido por Dilma em Brasília
Foto: Divulgação / Governo do Estado
Por falta de recursos, o estado parcelou o pagamento dos salários do funcionalismo em dezembro e dividiu em cinco vezes a segunda metade do 13º. Quem quis receber de uma só vez teve que pegar empréstimo especial no Bradesco. A crise orçamentária também impactou gravemente a área de Saúde e o estado teve que transferir a gestão de dois hospitais para a Prefeitura do Rio.

O orçamento do Estado do Rio proposto para 2016, de R$ 79 bilhões, tem rombo de R$14 bilhões que precisa ser coberto por meio de receitas extraordinárias. O cenário é agravado, ainda mais, pela queda da arrecadação do ICMS, que responde por 70% dos impostos estaduais. Devido à crise econômica, o recuo chegou a R$ 34,01 bilhões em 2015.

Petrobras corta R$ 32 bi

Com cenário adverso, a Petrobras cortou em 24,5% os investimentos de seu Plano de Negócios e Gestão para o período 2015-2019, reduzindo de US$ 130,3 bilhões — inicialmente projetados — para US$ 98,4 bilhões, uma redução de US$ 32 bilhões.

Segundo a estatal, os ajustes se adequam aos novos preços do petróleo, que acumularam queda de quase 20% nos primeiros dias deste ano, e ao efeito cambial, com o dólar cotado acima de R$ 4.
“Estes ajustes visam a preservar os objetivos fundamentais de desalavancagem e geração de valor para os acionistas, estabelecidos no PNG 2015-2019, à luz dos novos patamares de preço do petróleo e taxa de câmbio”, afirmou ontem a Petrobras.

Dos US$ 32 bilhões que foram cortados em relação ao plano de negócios publicado em junho de 2015, US$ 21,2 bilhões são referentes à “otimização do portfólio de projetos” e US$ 10,7 bilhões devido ao efeito cambial nos aportes.

Os cortes resultaram ainda na meta de produção de petróleo no Brasil de 2,185 milhões de barris por dia para 2,145 milhões, em 2016, e de 2,8 milhões para 2,7 milhões, em 2020.

A produção média de petróleo da estatal no país em 2015 somou 2,128 milhões barris por dia, volume 0,15% superior à meta estabelecida e 4,6% acima da produção de 2014 (2,034 milhões). “Isso representa o recorde anual histórico de produção de óleo da companhia, superando 2014”, diz a estatal.

O anúncio dos ajustes teve impacto no mercado financeiro, levando à queda de 9% das ações da estatal na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem, atingindo níveis de 2003.

Com ajustes da Petrobras, petroleiro teme demissões

A redução nos investimentos da Petrobras aumentou a preocupação dos empregados da empresa, que temem mais demissões na estatal. Segundo sindicalistas, a queda na produção de petróleo vai impactar todo o setor.

Conselheiro de administração da Petrobras, eleito pelos empregados, e coordenador do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, Deyvid Bacelar, diz que representantes dos empregados vão se reunir com a estatal nos próximos dias para discutir medidas que minimizem os impactos dos ajustes.

“Esperávamos uma redução, principalmente em meio à conjuntura mundial, com o barril do petróleo vendido a US$ 31. Mas um corte dessa monta é preocupante. Esse ajuste é agressivo e vai impactar diretamente na geração de empregos”, disse o sindicalista.

“Ao reduzir os investimentos haverá impacto direto na indústria naval brasileira, na cadeia produtiva da indústria do petróleo, e, consequentemente, menos emprego e menos renda sendo gerados. E estimamos mais demissões em meio a esse cenário”, completou Bacelar.

Ele lembrou que a comissão, formada por petroleiros e representantes da Petrobras, no fim da greve dos empregados do setor, no ano passado. Segundo o sindicalista, os empregados que fazem parte do grupo vão levar a questão da redução dos investimentos à discussão.

“Hoje, a crise do petróleo já está atingindo milhares de trabalhadores terceirizados. De 2014 a 2015, cerca de 150 mil foram desligados. Com esse ajuste, haverá ainda mais demissões no setor. E a comissão vai discutir medidas com a estatal para frear isso”, acrescentou Bacelar. (Reportagem de Paloma Savedra)