ESTADO COGITA TER DE RACIONAR ÁGUA

Abastecimento por um fio

A escassez hídrica no estado chegou a seu momento mais crítico. O alerta foi feito na terça-feira pelo secretário do Ambiente, André Corrêa, em entrevista ao “RJ-TV”, da Rede Globo. Ele reforçou que as “notícias não são boas” e lembrou que os eventos de seca, turbinados pelas mudanças climáticas, serão mais intensos e frequentes daqui para frente. O nível médio dos quatro principais reservatórios do Rio Paraíba do Sul, que abastece 9,4 milhões de pessoas na Região Metropolitana, não para de cair. Na terça-feira, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), o patamar estava em 6%. A represa de Paraibuna, a maior do sistema, opera com 1,17%, aproximando-se do volume morto.

— É a mais grave crise da história. Nunca o sistema Guandu esteve tão baixo — afirmou Corrêa.

No entanto, apesar do alerta, o secretário descartou colocar em prática medidas de racionamento. Pelo menos durante o verão, que começa em 21 de dezembro e termina em 21 de março:

— Se nós tivermos um verão com chuvas atípicas, não podemos descartar essa medida. No momento, não está previsto. Estamos agindo com transparência. Não há perspectiva de racionamento até o fim do verão.

Na avaliação do engenheiro sanitarista José Stelberto, diretor do Clube de Engenharia e ex-presidente da Cedae, é justamente a transparência, o maior problema.

— A Cedae não ter adotado até hoje um programa de controle de perdas da distribuição da água é inaceitável. Há menos água, estamos nunca seca tremenda e precisamos de mudanças. Isso é fato. Mas faltam informações e diálogo franco com a população — criticou Stelberto.

Em Barra Mansa, na Região do Médio Paraíba, o prefeito Jonas Marins de Aguiar (PCdoB) revelou que não estão descartadas medidas extremas, como a decretação de emergência hídrica, como já fez a prefeitura de Angra dos Reis, na Costa Verde.

— O Paraíba do Sul nunca esteve tão raso. Estamos racionando água em várias partes do município e eu não vejo notícia boa no futuro. Se a situação não mudar, não descartamos decretar estado de emergência hídrica — informou Jonas Marins.

TREZE MUNICÍPIOS EM SITUAÇÃO CRÍTICA

A cidade, de 179 mil habitantes, já tem 23 de seus 150 bairros afetados pela falta d’água. Segundo Jonas Marins, 13 municípios da região já enfrentam desabastecimento.

— Em menor ou maior grau, todos nós aqui do Médio Paraíba estamos sofrendo — disse o prefeito.

Terceira economia do estado e sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Volta Redonda também passa por uma situação crítica, segundo o prefeito Antônio Francisco Neto (PMDB):

— Estamos todos muito preocupados.

Em Angra dos Reis, a prefeita Maria da Conceição Rabha (PT) decretou estado de emergência hídrica no município. E determinou que, a partir de segunda-feira, comerciantes e empresários que não instalarem hidrômetros em seus estabelecimentos serão multados.

— Até hoje, a medição do consumo no comércio e na indústria de Angra dos Reis era feita por estimativa. Baixei um decreto que obriga a instalação de hidrômetros. Estamos com campanhas nas ruas pedindo economia à população e nada mais normal que o comércio e a indústria deem exemplos — afirmou a prefeita.

Abastecidos pelo sistema Imunana-Laranjal, moradores de Niterói também já estão sentindo os efeitos da escassez. É o que acontece, por exemplo, no Barreto, onde vive a funcionária pública Regina Célia Rodrigues de Souza, de 53 anos. Segundo ela, que mora na Rua Doutor March, há dez dias falta água no local:

— Deixo de lavar roupa. Comida, muitas vezes precisamos comprar fora. O banheiro fica sem ser lavado. Não temos condições de viver assim.

Por meio de nota, a concessionária Águas de Niterói informou que os problemas no abastecimento do município já foram normalizados, mas que alguns locais de ponta de rede, como é o caso do Barreto, podem levar até 48 horas para ter o fornecimento regularizado. A empresa ressaltou que, apesar da redução de vazão no sistema, não houve racionamento de água na cidade.