Carolina Gonçalves – Repórter da Agência Brasil
No dia seguinte à aprovação do relatório favorável à abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na comissão especial que analisou a admissibilidade do pedido durante 25 dias, parlamentares da oposição e do governo têm reuniões com o intuito de definir a estratégia para a votação no plenário, prevista para começar na sexta-feira (15) e terminar no domingo (17), e captar votos para cada lado.
Deputados que defendem o impedimento da presidenta mantêm na manhã de hoje (12) encontros informais e agora estão reunidos. Apesar de integrantes da oposição pedirem cautela, o número de votos para o afastamento de Dilma já chegaria a 360 “com os pés no chão”, afirmam assessores da oposição, o que seria suficiente para dar continuidade ao processo e enviá-lo ao Senado.
Governistas evitam cravar um placar, mas apostam que a oposição não conseguirá o número de votos necessários pró-impeachment no plenário. Na comissão, onde foram computados 38 votos a favor e 27 contra o impeachment, o resultado dependia da maioria simples, já no plenário, são necessários dois terços dos votos dos 513 deputados, ou seja 342 votos. Para os governistas, se a oposição não conseguiu dois terços dos votos ontem (11) na comissão, também não vai conseguir no plenário.
O PT começou o dia reunido com assessores e movimentos sociais. No encontro, fechado à imprensa, devem ser definidos atos de manifestação e protesto, como, por exemplo, quando for feita a leitura do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) em plenário, previsto para 14h de hoje (12). O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também deve ser alvo das manifestações, já que os governistas o acusam de ter acelerado a tramitação do pedido. Na reunião com assessores, deputados ainda alertaram que é preciso proteger servidores que tem sido “atacados” por se manifestarem a favor da presidenta Dilma.
A estratégia do PT deve seguir em clima de final de Copa do Mundo, como definiram alguns parlamentares ao entrar para o encontro. Será no corpo a corpo que pretendem garantir o número de votos para barrar a coninuidade do processo. Em relação a informações de que estaria em curso uma debandada de deputado do partido, vários petistas negam e dizem que há coesão pela defesa de Dilma. Possíveis saídas podem ocorrer, conforme alguns deputados, depois das eleições municipais e se o impeachment avançar.
No PR, o impasse entre a posição do líder Maurício Quintella Lessa (AL) e a da Executiva Nacional do partido, fez com que o encaminhamento do voto de bancada fosse lido pelo deputado Édio Lopes (RO), que orientou pelo voto contrário ao impeachment. Quintella Lessa anunciou no último dia 11 o afastamento da liderança por ter opinião contrária a do partido. Há expectativas de que os deputados da legenda se reúnam hoje para tentar afinar o discurso, numa prévia para a votação do relatório em plenário.
O novo líder do partido, Aelton Freitas (MG), escolhido “em eleição consensual”, confirmou que não há necessidade de “fechamento de questão” para que a legenda confirme ampla maioria contra o impeachment no próximo domingo. Apesar de anunciar a liberação dos votos, Freitas pode intensificar o impasse. Ele afirmou o apoio a Dilma Rousseff e declarou ser contrário ao processo de impeachment “sobretudo depois que as razões do processo em análise não atenderam às condições objetivas exigidas pela Constituição para o afastamento da presidente da República”, destacou o partido, em nota.
Os líderes do PRB, Solidariedade, PSB, DEM, PPS e PMB declararam voto pelo impeachment, enquanto as lideranças do PT, PCdoB, PDT, PTN, PSOL e PEN firmaram posição contrária ao processo.
Próximos passos
Com a leitura do parecer da comissão na tarde de hoje, o texto será publicado e as sessões de debates sobre o pedido de impeachment começam às 9h da próxima sexta-feira (15). Eduardo Cunha já sinalizava que, como as discussões vão tomar dias, a expectativa é que a votação ocorra até o final da tarde do domingo (17). Líderes partidários se reúnem hoje, às 15h, para definir alguns detalhes como a presença de representantes da sociedade civil nas galerias do plenário durante estes dias e sobre a ordem de chamada dos deputados.
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin negou um pedido do deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA) para que a Corte definisse a sequência de votação, argumentando que o Judiciário não pode interferir em questões internas do Congresso.