Segundo Gabriela Manhães, pedido partiu das próprias internas.
A psicóloga e voluntária atua na unidade há cerca de três anos.
Com o intuito de preencher o tempo ocioso, ampliar conhecimentos e dar asas a imaginação das detentas do presídio feminino de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, a psicóloga e voluntária Gabriela Manhães lançou nas redes sociais uma campanha pessoal para arecadar livros. A ideia surgiu após pedidos das próprias detentas do presídio Nilza da Silva Santos.
Trabalhando como voluntária no presídio há cerca de um ano, Gabriela faz parte da equipe do Projeto Vida, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), que tem como foco a promoção da saúde e da cidadania das internas. Ela conta que desde o último ano da faculdade de psicologia, atuava na unidade como estagiária e desde sempre emprestou os seus livros para as internas.
“Desde que eu fiz estágio lá eu emprestava meus livros para elas, porque elas ficavam muito ociosas. A gente também usava o artesanato e a leitura , então elas me pediam livros e iam trocando entre elas”, lembra, ressaltando que com o tempo de estágio já são mais de três anos atuando na unidade.
E foi há poucas semanas, durante uma oficina que surgiu a ideia de fazer uma campanha entre os amigos para arrecadar livros. “Na semana retrasada, que a gente teve uma oficina, elas vieram falar comigo que queriam ler e pediram ivros. Cheguei em casa e vi que já tinha dado todos”, conta Gabriela informando que os livros emprestados acabarm ficando para as internas.
Na página pessoal do faceebok na postagem da campanha, Gabriela ressalta que sua crença é ressocializar para não reincidir. Para ela, trabalhar como voluntária em um presídio não é diferente de atuar em um consultório, já que para a jovem, todos merecem o mesmo tratamento.
“Campanha partiu após um pedido das próprias interna (Foto: Arquivo/G1)” width=”620″ height=”465″ class=”size-full wp-image-2024″ /> Campanha partiu após um pedido das próprias interna
(Foto: Arquivo/G1)[/caption]“Atuar num campo como esse, pra mim não é diferente de atuar em um consultório. Não me preocupo com a periculosidade, nem nada disso. O que me faz estar lá é o meu interesse por ajudar as pessoas que ninguém quer ajudar, mas que são seres humanos como todas os outros. Eu não faço distinção de pessoas. E nem trato diferente lá dentro quem roubou uma galinha ou quem praticou um homicídio. Pra mim todos são humanos, que em sua maioria vivem à margem da sociedade, que os dados estatísticos mostram e eu comprovo na prática conhecendo essa população”, relata.
Gabriela, que tem 25 anos, conta que sofre bastante preconceito por atuar de forma voluntária em uma unidade prisional, mas acredita que seu trabalho contrubui de alguma forma para fazer a diferença na vida daquelas mulheres. “As pessoas acham um absurdo eu me arriscar na cadeia de graça pra quem “não merece”. Lá de dentro elas não conseguem pedir nada a ninguém. E elas podem gritar o mais alto que puderem que ninguém vai ouvir. Alguém tem que fazer alguma coisa. Amanhã eles vão estar de volta na sociedade, que seja daqui há dez, ou trinta anos, mas vão voltar. E que voltem com algo positivo do tempo que estiveram lá”, acredita.
A ideia de Gabriela é que a campanha possa se estender a um projeto para criar uma feira de livros. A ideia já foi passada para a direção da unidade e aguarda aprovação. A jovem afirmou que muitos amigos já estão colaborando com a campanha. “É através dos livros que elas conseguem sair das grades, através da imaginação”, ressalta.
Quem estiver interessado para fazer doações, basta entrar em contato com Gabriela através do email grmanhaes@gmail.com.
Gabriela faz parte do Projeto Vida, que desenvolve oficinas e palestras para a unidade (Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal)
Gabriela faz parte do Projeto Vida, que desenvolve
oficinas e palestras na unidade
Presídio
O Presídio Nilza da Silva Santos abriga aproximadamente 300 internas. De acordo com a Seap, a faixa etária das mulheres varia entre 18 a 64 anos. Algumas detentas conseguem trabalho por indicação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades), que também acompanha o trabalho deleas quando elas atuam no regime semi-aberto.
A Seap informou que atualmente, duas mulheres que estavam na unidade estão trabalhando por indicação do Instituto e três internas do regime semiaberto estão trabalhando com autorização judicial.
Projeto Vida
Atualmente, o Projeto Vida atende 10 unidades prisionais, sendo sete de regime fechado e três de regime de semiliberdade. A metodologia do programa alterna palestras e oficinas. As palestras acontecem através de aulas expositivas, discussão de pequenos textos ou filmes seguidos de debate. As oficinas desenvolvem os temas abordados nas palestras de forma lúdica e dinâmica, promovendo vivências, debates e reflexões. Entre os temas desenvolvidos estão, meio ambiente, resistência e superação, convivência familiar, sexualidade, diversidades e gênero, saúde e direitos humanos.
A Seap também informou que o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (Ibrades) atende 30 internas da unidade e o Projeto Vida atende 35 internas. Ambos realizam dinâmicas de recolocação e educação profissional. Além disso, o curso de biojoias, promovido pelo Sesc, atende 35 internas. Há ainda 25 detentas matriculadas no programa de alfabetização Mova Brasil.
Stella Freitas
Do G1 Norte Fluminense