Cinco anos após tragédia natural, a chama olímpica passeia pela cidade e leva a população às ruas. Há cinco anos, a cidade serrana de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, enfrentou a maior tragédia da sua história. Um deslizamento de terra na região deixou o município debaixo de lama e levou à morte centenas de pessoas. A cada dia, a região renasce um pouco e se recupera do trauma. Afastando ainda mais essa lembrança dolorida, o sábado (30.07) trouxe de volta uma atmosfera de glória. Foi dia de receber a chama olímpica, com samba, gente pelas ruas e passeio pelo teleférico local.
Também afetado pela catástrofe, o teleférico passou três anos desativado. Hoje, enfeita a Praça do Suspiro, cercada por uma vegetação que voltou a ter vida. Os cabos de aço passam sobre a Igreja de Santo Antônio, também reconstruída, e hoje, cheia de graça. Foi lá o ponto favorito dos friburguenses para acompanhar a chegada da tocha olímpica. Uma delas era a voluntária de projetos sociais Telma Borges, de 51 anos, animada para correr atrás da chama. “Acho importante a tocha passar aqui, para recuperar um pouco da autoestima da população”, avaliou.
Animada com a oportunidade, a população local retribuiu à altura. Quando a chama desceu do topo do morro até o centro da praça, foi recebida com gritos de euforia e uma chuva de papel prateado.
O condutor escolhido para esse momento tão especial também simboliza a capacidade de superação dos friburguenses. Aos 65 anos, o empresário Gilberto Sader perdeu tudo no fatídico acidente climático. No meio da madrugada, soube que sua loja de doces havia sido invadida pela enxurrada. Ao chegar lá, encontrou tudo fora do lugar e as portas arrancadas pela força da água. Dormiu três noites na porta do estabelecimento, feito cão de guarda, para evitar que o que sobrou do estoque fosse roubado. Pensou em desistir, passar o ponto adiante, mas foi estimulado pelos filhos a seguir em frente.
Durante 28 dias, de enxada na mão, eles recuperaram o espaço da loja e, hoje, Sader considera o negócio mais próspero do que antes. “Quando eu tocar a tocha, estarei levando comigo todo mundo que lutou pela reconstrução da cidade”, ressalta.
A torcida por Gilberto ultrapassou os limites de Nova Friburgo e chegou ao outro lado do mundo. Amigo do empresário, o jornalod_jornallista libanês Naji Farah veio passar férias com a filha no Brasil, especialmente para acompanhar o triunfo de Sader. “Estamos muito orgulhosos desse evento”, declarou.
Em outros bairros, a cidade mostrava seu charme e o capricho com que recebeu a chama. Por entre as montanhas forradas de verde e as casas de colonização suíça, bandeirolas de propaganda da tocha foram penduradas por toda a parte. Numa dessas avenidas, a ginasta Luísa Parente relembrou o sabor olímpico, como condutora da chama. Ela representou o Brasil nos Jogos de Seul-1988 e Sidney-1992, além de ganhar dois ouros no Panamericano de Havana-1991 e um bronze em Indianápolis-1987.
Hoje, é professora de ginástica artística, atua como gerente esportiva do Clube de Regatas Flamengo para Judô e ginástica, além de ser comentarista esportiva de uma emissora de televisão. “Já participei de muitas olimpíadas escolares, mas é a primeira vez que levo uma tocha originalíssima. Estou muito feliz”, afirmou.
Não muito distante dali, foi a vez de outra ginasta brilhar. Medalha de ouro na ginástica rítmica em Londres-2012, a russa Anastasia Nazarenko, de 23 anos, percorreu seu trecho saltitando entre os brasileiros que gritavam seu nome. “É minha primeira vez no Rio e estou muito feliz em estar aqui. São muitos contrastes e emoções diferentes. Ontem visitei a estátua do Cristo Redentor e senti a magia de estar aqui”, declarou. No sábado, a chama passou por Teresópolis, Guapimirim, Cachoeira de Macacu e Nova Friburgo. No domingo, esteve em Cordeiro, Itaocara, São Fidélis, Campos dos Goytacazes, Conceição de Macabu e, por fim, Macaé.
Matéria: Mariana Moreira, de Nova Friburgo – brasil2016.gov.br
Fotos: Daniel Marcus