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PMDB do Rio abandona Dilma na hora da verdade

Somente dois deputados da bancada vão votar contra o impeachment em Brasília neste domingo

CAIO BARBOSA
Rio – Fiel escudeiro do governo federal desde o segundo turno das eleições de 2006, o PMDB fluminense abandona, definitivamente, a presidente Dilma Rousseff na votação da tarde deste domingo, que pode pôr fim aos 14 anos de gestão do Partidos dos Trabalhadores.

O namoro começou com a aliança entre o então senador Sérgio Cabral e Lula. O primeiro, então senador, disputava o governo do estado contra Denise Frossard (PPS). Lula, por sua vez, concorria à reeleição contra Geraldo Alckmin (PSDB), um ano após o Mensalão.

A vitória de ambos nas urnas transformou o namoro em casamento, com direito a muitas declarações de amor de parte a parte e um conjunto de obras que serviram como propaganda de gestão eficiente, tanto para Lula como para Cabral.Posteriormente, veio Eduardo Paes, que entrou para o triângulo amoroso-político ao trocar o PSDB pelo PMDB e abocanhar a Prefeitura do Rio.Hoje, porém, o amor acabou. Dos 11 deputados da bancada fluminense, apenas Leonardo Picciani e Celso Pansera estarão com Dilma. Os demais, a começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, são a favor do impeachment. Inclusive Pedro Paulo Carvalho e Sérgio Zveiter, ligados a Eduardo Paes, que há um mês havia dito a Lula que seria um soldado a favor de Dilma, mas acabou roendo a corda junto aos demais.

O PMDB fluminense não é o único a abandonar o governo federal. No estado onde o PT sempre obteve vitória nas urnas em nível nacional, e onde muitos bilhões de reais foram investidos nos últimos anos, apenas 11 dos 46 deputados estão com Dilma.

Além de Picciani e Pansera, Alessandro Molon (Rede), Jandira Feghali (PCdoB), os psolistas Chico Alencar, Jean Wylls e Glauber Braga, além, claro, dos petistas Luiz Sérgio, Wadih Damous, Benedita da Silva e Chico D’Ângelo.

As conjunturas políticas, no entanto, podem reservar novidades de última hora. Como, por exemplo, a retirada repentina do apoio da deputada federal Clarissa Garotinho (PR) ao impeachment de Dilma.

Clarissa era do PMDB em 2006, quando o diretório fluminense decidiu apoiar Lula. À época, no entanto, a deputada era filha do ex-governador Anthony Garotinho que, rompido com Sérgio Cabral, apoiou Geraldo Alckmin na eleição presidencial.

Semana passada, ela garantia que a sua gravidez de oito meses não a impediria de votar contra Dilma. Anteontem, no entanto, apresentou atestado médico que a impede de viajar. A mudança de últuima hora foi comemorada como uma vitória do governo petista.

Atos: ao vivo no plenário

A votação de hoje no plenário da Câmara dos Deputados terá um ingrediente a mais. Se a comissão especial do impeachment se mostrou mais preocupada com o termômetro das ruas do que com o fato de haver ou não, nas pedaladas fiscais, crime de responsabilidade que justifique o afastamento de Dilma, hoje o plenário terá um prato cheio. O líder da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu exibir imagens das manifestações que ocorrerão hoje pró e contra o impeachment dentro do plenário. Dois telões serão instalados para que os deputados avaliem o clima das ruas antes de decidirem seus votos.

Segundo a diretoria-executiva da Comunicação Social da Câmara, os telões exibirão as imagens de duas câmeras externas: uma no 28º andar e outra sobre a laje do Congresso, entre as cúpulas da Câmara e do Senado. O órgão, subordinado ao deputado Eduardo Cunha, garante que serão transmitidas imagens dos dois grupos, pró e contra o impeachment, para que os deputados tenham a visão do clima das ruas.

A ideia de instalar os telões partiu dos deputados da oposição, principalmente os ligados ao presidente da Casa. Como justificativa, a diretoria de comunicação da Câmara dos Deputados informou que o impacto que o processo de impeachment está provocando na sociedade “não é leve, nem trivial”, mas “algo solene que o parlamentar precisa refletir”. Outra desculpa foi a de que o avanço tecnológico permitiu esse tipo de contato “entre o parlamentar e as ruas”. A Câmara também instalará dois enormes telões do lado externo, para que os manifestantes acompanhem ao vivo a votação.

Os telões são mais uma inovação de Cunha no processo. Ele já havia alterado a ordem de votação dos deputados no plenário: em vez de alfabética, como foi no impeachment de Fernando Collor de Mello, será por bancadas de estados. A mudança na votação foi referendada pelos ministros do Supremo, em sessão na quinta-feira, que entrou pela madrugada.